Preparação em estrutura de ponta alimenta sonho olímpico nos Saltos Ornamentais
Com objetivo de fazer história nos Jogos, brasileiros treinam ao lado de saltadores estrangeiros em centro de excelência na UnB
Subir os 10 metros da escadaria estreita e ingrime que leva ao trampolim e olhar lá embaixo o azul da piscina diminuída causa vertigem e medo. Mas é a superação diária desse desafio, reforçado pelo vento no topo da plataforma com altura equivalente a um edifício de três andares, o que estimula saltadores como o brasiliense Hugo Parisi, o paulista Jackson Rondinelli e a paraibana Luana Lira a pular, num exercício acrobático de força e beleza em pleno ar, para alimentar o sonho olímpico.
“Muitas pessoas acham que só porque a gente salta todos os dias não tem medo, mas estão completamente enganados. Porque, mais do que só saltar, a gente tem de fazer um monte de piruetas no ar. Sabemos que, se não prestar atenção e deixar o medo tomar conta, corremos o risco de ter um grave acidente. A ideia é deixar o medo de lado e pensar só na técnica. Os que conseguem lidar com isso têm grandes chances fazer os saltos melhores”, conta Hugo, que atualmente treina no Centro de Excelência em Saltos Ornamentais da Universidade de Brasília (UnB), construído para a preparação dos atletas que disputarão os Jogos Olímpicos Rio 2016.
Ao 31 anos, o saltador irá para a quarta Olimpíada consecutiva. Ele já disputou Atenas (2004), Pequim (2008) e Londres (2012). Especialista na plataforma de 10 metros, sendo cinco vezes campeão sul-americano, o atleta do Mackenzie/DF diz que a estrutura montada na UnB tem sido fundamental na preparação. “Hoje, centro tão completo como esse não tem no Brasil. E se compararmos com outros lugares do mundo, aqui é um dos melhores”, afirma.
A estrutura inaugurada em 2014, após investimento de R$ 800 mil pelo Ministério do Esporte, está atraindo agora atletas de outros países. A equipe venezuelana já passou pela UnB. Nas próximas semanas será a vez dos australianos, canadenses e poloneses. “Vamos ter aqui atletas e técnicos medalhistas olímpicos. A elite dos saltos ornamentais a nível mundial vai treinar aqui”, diz o treinador Ricardo Moreira.
O técnico da Seleção Brasileira de Saltos Ornamentais explica que o centro é um dos poucos de alto nível no mundo fora de ginásios fechados. O vento é o principal desafio, uma vez que pode influenciar no movimento dos saltadores. É isso o que tem atraído delegações estrangeiras que virão ao Rio. As equipes querem simular as condições climáticas brasileiras.
O intercâmbio servirá de estímulo e aprendizado aos brasileiros. “Em competição o que se vê é o resultado do trabalho. O legal de ver o treinamento é acompanhar o processo, o que eles fazem para poder chegar na competição naquele nível”, compara o treinador.
O estreante olímpico Jackson, de 21 anos, atleta do Pinheiros/SP, confia na troca com outros saltadores como parte da preparação para o Rio 2016. “Quando eles vêm para cá para treinar um pouco mais é muito bom. Porque a gente vê o cara competindo, nunca treinando e ver isso é muito importante”, diz.
Chance no sincronizado
Mas antes de ascender à plataforma nos Jogos Olímpicos Rio 2016, os saltadores terão de disputar a 20ª Copa do Mundo de Saltos Ornamentais, entre 19 e 24 de fevereiro. Serão 249 atletas de 47 países disputando 92 vagas para os Jogos do Rio. Entre eles, o australiano Matthew Mitcham (ouro em Pequim) e a mexicana Laura Sanchez Soto (bronze em Londres).
O evento irá acontecer no Parque Aquático Maria Lenk, onde também serão disputadas as medalhas olímpicas. “Para seguir no sonho olímpico tem que ir bem nessa competição. A gente tem treinado bastante para isso e temos bastante chance de estar entre os 18 primeiros, que é o que precisa (para consolidar a presença na Rio 2016)”, afirma Hugo.
O brasilense fará dupla com Jackson no salto sincronizado – além de competir sozinho na plataforma de 10 metros. Os dois apostam nessa modalidade para obter uma boa classificação nos Jogos Olímpicos. A melhor colocação do Brasil foi um 8º lugar nos Jogos de Atenas.
Hugo, por isso, mostra-se discreto ao falar em chance de medalha. “A prova de sincronizado é onde acredito que estão as maiores chances do Brasil. Acredito que existe uma chance, mas não é fácil”, diz o saltador.
Ele avalia que será um passo importante na história do esporte por aqui qualquer colocação à frente da obtida na Grécia em 2004. Isto porque, entre a plataforma e a piscina do Maria Lenk existirá a China. Os chineses levaram 6 de 8 medalhas de ouro disputadas nos saltos ornamentais dos Jogos de Londres.
‘Vamos dar trabalho’
Os atletas têm trabalhado o lado emocional para evitar a auto-cobrança por desempenho numa Olimpíada em casa. “Direto eu fico falando: ‘Caramba tá chegando, tá chegando’. Isso me traz uma ansiedade, que sabendo usar é sempre muito boa”, afirma Jackson.
Mais experiente em competições internacional, Parisi avalia que “o fator casa pode ajudar”. Mas para ele “medalha é consequência da competição”.
O treinador Ricardo acredita que o Brasil vai levar para os Jogos do Rio a melhor equipe que o País já teve no esporte. “Vamos fazer um papel bonito”, confia. “Estamos em casa, com o apoio da torcida e da família. Se eles (principais competidores internacionais) bobearem, a gente vai dar trabalho”, indica.
Fonte: Portal Brasil, com informações da CBDA, Ministério do Esporte e da UnB