Hugo Parisi, o saltador que carrega o Brasil nas costas
Atleta de Brasília participa de sua quarta Olimpíada e só quer fechar a carreira com um bom resultado
Nas costas de Hugo Parisi há duas tatuagens: um mapa do Brasil e os anéis olímpicos. A marca na pele do saltador de plataforma foi feita em 2007, nas vésperas de ele conseguir o melhor resultado de sua carreira em Olimpíadas, um 19º lugar. Hoje, inconscientemente ou não, ele carrega o peso e a responsabilidade de participar de seu quarto torneio consecutivo – ao lado de Cesar Castro (também a caminho da quarta participação) e Juliana Veloso (indo para a quinta), é um dos destaques do time brasileiro e exemplo para quem quer seguir a carreira.
Em casa, Parisi espera superar seus outros resultados e deixar a piscina mais feliz do que quando entrou. Medalha? Se vier, ótimo, mas para ele seria o resultado de um intenso trabalho que vem sendo desenvolvido desde a infância. “Só quero ficar satisfeito como quando eu saí dos jogos de Pequim”, disse Parisi ao EL PAÍS pouco antes de iniciar seu treinamento no Centro de Excelência em Saltos Ornamentais, em Brasília.
Hugo Parisi começou a saltar aos seis anos de idade porque seus pais, um engenheiro elétrico e uma professora, achavam o esporte bonito. Inscreveram o filho em uma escolinha da capital brasileira e o incentivavam de todas as maneiras possíveis, inclusive financiando suas viagens e treinamentos para participar das mais diversas competições. “No meu começo o que funcionava mesmo era o ‘paitrocínio’”, afirma o saltador.
Ele só percebeu que se dedicaria a essa profissão aos 18 anos. Seu empenho foi tamanho que dois anos depois chegou a suas primeiras Olimpíadas, a de Athenas, em 2004. Terminou em 32º lugar. “Me dediquei tanto que, quando chegaram os Jogos eu estava exausto e não fiquei muito feliz com o resultado”. A independência financeira veio há cerca de dez anos, quando passou a ter vários patrocinadores (hoje são cinco) e a contar com verbas governamentais, como o Bolsa Atleta.
A segunda participação, Pequim-2008, é a da qual ele mais se orgulha. “Por pouco não passei para a semifinal”. Já em Londres, diz que uma lesão no pescoço o atrapalhou. Acabou na 30ª colocação. Como a vida de um atleta não depende só de Olimpíadas, Parisi soma 376 competições e 223 medalhas, sendo 138 delas de ouro. Uma das mais marcantes, porém, foi a primeira que conseguiu, uma de bronze quando tinha nove anos de idade. “Por ser a primeira, não tem como não esquecer”. Seu último resultado marcante, além da classificação para os jogos obtida em fevereiro passado, foi no Sul-americano de Santiago de 2014, de onde saiu campeão.
Dedicação e aposentadoria
Vinculado ao clube Mackenzie, Parisi é um profissional extremamente dedicado. Treina cerca de quatro horas por dia. Parte do tempo, sozinho sob a orientação do treinador Ricardo Medeiros, e outra parte, com seu companheiro no salto sincronizado, Jackson Rondinellli. É visto por colegas como um incentivador do esporte. “Sempre que pode ele está dando dicas para a meninada que treina aqui em Brasília também”, diz André Fonseca, um ex-campeão brasileiro da modalidade que hoje é um dos treinadores da equipe de jovens (entre 10 e 15 anos) que dividem a piscina com esses dois atletas olímpicos.
No próximo dia 1º de agosto, Parisi irá comemorar seus 32 anos de idade, já no Rio de Janeiro. Estará concentrado na Vila Olímpica cumprindo a rotina dos atletas e se preparando para as provas que ocorrerão nos dias 8 (o salto sincronizado), 19 e 20 (o individual na plataforma de 10 metros). Instado a dizer quem são os principais adversários, o brasiliense dispara: “Seu principal adversário e você mesmo. Nesse esporte, você vive uma luta constante com sua cabeça”. Concentração, aliás, é um de seus pontos fortes. Há mais de uma década ele passa por acompanhamento psicológico para estar preparado nos momentos cruciais.
Na plataforma individual de 10 metros, a especialidade de Parisi, o atleta precisa fazer seis saltos diferentes. No caso das mulheres, são cinco saltos. “Cada salto é uma competição. Se errar um detalhe, pode perder meio ponto que vai fazer falta no final”, diz ele. Na preliminar, são 32 participantes. Para semifinal, passam 18. E para a final, 12.
O Brasil nunca conseguiu uma medalha olímpica na modalidade. O esporte começou a crescer no país em meados dos anos 1990, quando o perfil dos atletas mudou dos “destemidos” para os bem-treinados. Além de Parisi, Veloso e Castro, outro expoente da modalidade foi Cassius Duran, hoje já aposentado. No caso do brasiliense, essa será a última vez que transitará por uma vila olímpica como atleta. “Quero encerrar com chave de ouro, com uma disputa em casa”, afirma. A aposentadoria deverá ocorrer em 2017. Depois, deixará de ser um atleta para, em princípio, dedicar-se à empresa de consultoria esportiva que montou há alguns anos e leva seu nome.
Fonte: El País (AFONSO BENITES)